O Rei de Espanha visitou a Madeira
Tenente-Coronel Piloto-Aviador (Reformado)
Por isso não há razão nenhuma de ordem pessoal para que o monarca de cerca de três quartos da antiga Hispânia não seja bem recebido no antigo reino de Portugal e dos Algarves. Quando, porém, as questões de Estado se intrometem nas visitas oficiais e nos passeios o caso muda de figura. E quando fôr caso disso os nossos representantes têm que pôr a coluna erecta, levantar o queixo, olhá-lo nos olhos e dizer-lhe o que for de justiça.
Durante a visita à Madeira decorreu o aniversário da banda de música de Câmara de Lobos, onde actuou a banda local e… a filarmónica de Olivenza (com “z”). Este evento foi promovido pela Secretaria de Estado Regional dos Assuntos Culturais.
Ora tal facto, à luz do diferendo que existe desde 1801/7 relativamente à ocupação ilegal daquela antiga e portuguesíssima vila – onde os espanhóis de resto, não têm razão alguma – só pode ser considerado uma provocação, ou uma distração de mau gosto. Aliás, de Espanha poderia ter vindo uma banda de 30000 localidades diferentes, mas escolheu-se a de Olivença. Não foi certamente por acaso. Moncloa sabe do seu ofício e é pena é que do lado português andem todos aparentemente a dormir na forma e ninguém faça o trabalho de casa.
Vejamos: a questão de Olivença é sistematicamente ignorada em todas as cimeiras luso-espanholas (e não ibéricas, um erro elementar!) que se realizam todos os seis meses – a próxima vai ser em Elvas. Mas, curiosamente, o primeiro-ministro Zapatero escreveu uma carta à direcção dos Amigos de Olivença (GAO) – patriótica associação constituída em 1938, e que desde então luta denodadamente pelo retorno de Olivença à sua Pátria – em que exortava o GAO “a participar positivamente na resolução do assunto”[1]. Mais tarde constituiu-se em Olivença o fórum “Além Guadiana” de iniciativa local para promover actividades de cariz cultural. Mas como se mostraram, de um modo geral, favoráveis a Portugal, tal não terá agradado às autoridades espanholas, que logo se moveram contra aquelas “irreverências”. No passado dia 11 de Julho, deram-se até ao desplante de inaugurar um busto dessa figura sinistra que foi Manuel Godoy – principal carrasco da Olivença portuguesa – numa das salas da Torre de Menagem do Castelo daquela vila, mandado construir por… D. Dinis.
Do lado de cá da raia, vários autarcas de municípios vizinhos, continuam a fazer e a dizer uma série de disparates, pois não há maneira de entenderem que têm que se desenvolver, juntando-se à costa portuguesa e não ao lado de lá da fronteira. É que no fim de serem chupados, os caramelos espanhóis deixam sempre uma grande amargo de boca...
Ora na Madeira a coisa fia ainda mais fino: os nossos “hermanos” – manda a boa higiene e os bons costumes que os irmãos, quando crescidos, devem viver em casas separadas – ainda alimentam reivindicações espúrias sobre as ilhas Selvagens e não devem gostar nada de actos de soberania portuguesa, como foi a recente visita de Jaime Gama, em Maio deste ano, enquanto presidente da Assembleia da República, àquele pedaço de território de grande importância estratégica .
E em tudo o que os espanhóis façam ou intentem, nós devemos desconfiar e é lamentável que os portugueses passassem a esquecer rapidamente os seus “segredos de família” e a andar com as “guardas” em baixo.
A banda de Olivença permaneceu quatro dias no Arquipélago e deu dois concertos, juntamente com a “Banda Recreio Camponês” de Câmara de Lobos: só fazia sentido recebê-la não como espanhola, mas como indo de território português… Mas tudo passou despercebido entre autoridades, população e meios de comunicação social.
Curiosamente, ou não, lá apareceu mais uma sondagem cretina, feita pela Universidade de Salamanca e publicitada pelo “El Pais” (tido como próximo do PSOE), em que se afirma que percentagens elevadas de portugueses e espanhóis pretendem a (maldita da) União Ibérica.
E houve até um conhecido banqueiro português que veio afirmar a necessidade de “amalgamar” tudo o mais possível. Já não chegavam os grotescos Saramago e Mário Lino, se auto-proclamarem traidores ao dizerem-se iberistas! O segundo, sendo ministro, continuou no governo; ao primeiro ofereceu-se-lhe uma fundação, paga com dinheiros públicos e com sede na casa dos bicos, moradia do grande Afonso de Albuquerque, que deve andar a ranger os dentes no túmulo.
Noutro âmbito, é ainda de reter que o Arquipélago da Madeira é aquele que pode, verdadeiramente, fazer concorrência em termos de turismo às ilhas Baleares e, sobretudo, às Canárias. E é curioso (e lamentável!) que a única ligação marítima entre o Continente e o arquipélago seja feita entre Portimão e o Funchal por um ferry-boat … espanhol.
Afinal o “manicómio em autogestão” não acabou nos tempos do famigerado PREC.[2]
[1] Carta entretanto enviada para o MNE e PR para os efeitos tidos por convenientes…
[2] Processo Revolucionário em Curso