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Jornal O Diabo

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O Diabo que o carregue: José da Silva Lopes

José da Silva Lopes pode ser (e muita boa gente diz que é) um técnico altíssimamente qualificado na área das Finanças. O seu currículo atesta-o: foi administrador do Montepio, governador do Banco de Portugal, ministro do Comércio Externo, das Finanças e do Plano, representante de Portugal no Banco Europeu de Desenvolvimento e consultor do FMI e do Banco Mundial. A sua competência não está em causa. O que nos últimos tempos a opinião pública questionou foi isto: quando já aufere reformas chorudas, e depois de ter deixado o Montepio com uma “compensação” de 400 mil euros, aceitou um lugar de administrador numa empresa do grupo EDP, onde aufere uma remuneração capaz de deixar pálidos de incredulidade os pensionistas portugueses. A pensão média, no nosso país, é de 386 euros. Ora, só do Montepio (onde apenas se manteve ao serviço durante 4 anos), Silva Lopes recebe uma reforma mensal de 4 mil euros. Não estão em causa, repita-se, os méritos técnicos do financeiro, nem sequer (ao contrário do que se tem argumentado com abundância na blogosfera) a sua idade, 77 anos. Não é pela competência nem pela idade que o caso é assombroso. É pelo contraste. É pela evidência de que um passado digno como o seu não pode sair beneficiado deste novo emprego. Com tudo o que já ganha, bem podia trabalhar de borla. Assim, sujeita-se à crítica e ao sarcasmo. E o que lhe dizem não é bonito de ouvir.

FRA DIAVOLO    

 

Suspeita de terrorismo: Estádio do Dragão era o alvo

Dois palestinianos e dois marroquinos foram apanhados num carro roubado em Lisboa à porta do estádio do FC Porto. Autoridades temem ligação terrorista e rede de escravatura

 

 

No início de Julho deste ano, a Polícia de Segurança Pública que fazia o giro habitual junto ao Estádio do Dragão, no Porto, surpreendeu quatro indivíduos de origem árabe a rondar as instalações do edifício, numa viatura automóvel. Ao perceberem que estavam a ser observados, os quatro homens, com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos, saíram do carro e colocaram-se numa paragem de autocarro ali perto, abandonado a viatura. A polícia abordou-os mas, como os suspeitos só falavam árabe, foram detidos e levados a tribunal. Abdelkader Zenagui e Abdessamad Kouzali, que disseram ser originários da cidade de Ramalah, na Palestina, acabaram por ficar sob detenção e estão a aguardar a sua expulsão do País. Já os outros dois companheiros, Es-Soror e Amid Meklonti, marroquinos, foram colocados com termo de identidade e residência, também com sentença de expulsão.

 

Os serviços de informações portugueses, sabe "O Diabo", estão preocupados com a presença destes homens junto ao estádio do Dragão, principalmente dos dois alegados palestinianos, originários da cidade que é a maior base de apoio ao terrorismo islâmico na Palestina. Fonte próxima da investigação garante ao nosso jornal que "não se pode excluir a possibilidade de as redes organizadas de terrorismo estarem a estudar alvos no nosso País, sendo que o estádio do Futebol Clube do Porto é um palco de acontecimentos internacionais, logo um alvo relevante".

 

O caso não passaria de uma simples detenção de ilegais se, depois de ouvidos em tribunal, as declarações dos palestinos se confirmassem. Mas tal não aconteceu. O 3º Juízo do Tribunal de Pequena Instância Criminal do Porto não obteve resposta às suas perguntas, quando questionou Abdessamad Kouzali, que iria a conduzir a viatura roubada em Lisboa e na qual foi detido. Kouzali, dias mais tarde, ouvido já em detenção nas instalações dos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), no Porto, declarou ser palestiniano, mas aqui a trama torna-se mais densa. Uma vez que ele e o seu compatriota não possuíam qualquer documento, o SEF pediu à Delegação-Geral a Palestina em Portugal que comprovasse a história dos prisioneiros. Para surpresa e apreensão dos serviços, Abdessamad Kouzali não possui nacionalidade palestiniana. A Delegação-Geral recusa-se a reconhecê-lo porque, diz, "não está registado nos registos oficiais", refere carta datada de 11 de Agosto deste ano.

 

Pior: ambos palestinianos deram como morada uma casa em Odivelas, Lisboa, a 350 quilómetros do local onde foram apanhados pela Polícia, na referida viatura.

 

Abdessamad Kouzali diz ser electricista e o seu compatriota, Zenagui, afirma ser cozinheiro, mas nenhum consegue apresentar documentação que o comprove. Estes cidadãos nem sequer constam das bases de dados internacionais da Eurodac, que mantém registo dos cidadãos ilegais que circulam na União Europeia. As autoridades portuguesas esperam agora resposta da Interpol, a quem forneceram fotografia dos detidos, para confirmar se, sobre eles, pendem mais acusações ou suspeitas. O material apreendido na viatura e junto à paragem de autocarro do estádio do Dragão não foi reclamado por nenhum dos detidos.

 

Os cidadãos marroquinos também detidos parece terem sido apanhados no esquema dos alegados palestinianos. Estando ambos ilegais em Portugal, um deles apresenta prova de que está a tentar naturalizar-se e, inclusivé, está casado com uma portuguesa, de quem espera um filho. Perante este caso, as autoridades nacionais temem que as redes de mão-de-obra ilegal estejam agora a facilitar a entrada a operacionais terroristas oriundos do Médio Oriente.

 

Campanha devora 14 milhões de euros – e o povo paga o grosso da factura

Os gastos dos partidos nas próximas legislativas vão atingir a soma de 14 milhões de euros. A fatia de leão vem dos impostos que todos pagamos: cerca de 9 milhões. Mas construtoras civis e cimenteiras não se fazem rogadas nos “donativos”, na esperança de que os vencedores se lembrem da sua “generosidade”. Conheça as contas dos partidos e saiba como vai ser usado tanto dinheiro.

 

Os cartazes e tempos de antena que dentro de um mês vão encher ruas e ecrãs por todo o País são pagos, em boa parte (mas não a maior), por empresas privadas que têm negócios com o Estado. António Mota, presidente da construtora Mota Engil admitiu já ter “passado cheques ao PS, PSD e CDS”. Não é o único, nem a Mota Engil a única empresa a financiar campanhas partidárias. O jogo das apostas é uma lotaria para quem tem interesses nas decisões do Estado. As empresas olham para este dinheiro, entregue aos partidos, como um investimento. Ao suportar parte dos custos das campanhas, esperam depois um “obrigado” por parte do interlocutor, seja ele da esquerda, da direita ou do centro.

 

A campanha eleitoral, que começa dentro de quinze dias, já tem um campeão de gastos previstos: o Partido Socialista. José Sócrates estima gastar 5,4 milhões de euros em propaganda, dos quais, acredita, 3,13 milhões vêm dos impostos cobrados aos portugueses. A subvenção estatal para os partidos é calculada depois dos votos contados. O PS presume, ao ter apresentado estes números na semana passada, que sairá vencedor das eleições.

 

Já o PSD vai gastar, ao todo, 3,34 milhões de euros em propaganda, dos quais 2,85 milhões serão oriundos dos impostos, ao abrigo da referida convenção.

 

A CDU está confiante que será o terceiro partido português, e estima ganhar um milhão de euros de subsídio estatal. Ao todo gastará 1,8 milhões na campanha. O Bloco de Esquerda diz que vai ser o quarto partido mais votado e, se assim suceder, receberá 900 mil euros estatais,  com um orçamento total de campanha de 994 mil euros. Isto é: dinheiro próprio do Bloco é apenas 94 mil euros. O valor de um pequeníssimo apartamento em Lisboa.

 

Por fim, o CDS. Paulo Portas considera ser “sua obrigação” bater o PCP e o BE, mas prevê gastar 3,34 milhões em campanha, dos quais apenas 807 mil euros provindos dos cofres do Estado – abaixo, portanto, dos seus mais directos rivais à esquerda.

 

Entretanto, o Movimento Esperança Portugal, prevê também receber dinheiro do Estado. O MEP candidatou Laurinda Alves às eleições europeias e ficou a escassos votos dos 50 mil, o número mágico para que o Estado comece a pagar. Para as legislativas, o partido diz que terá direito a 290 mil euros

 

O Estado prepara-se, assim, para gastar com os dois maiores partidos portugueses perto de seis milhões de Euros – dinheiro vindo dos impostos cobrados a todos. O dinheiro do Estado, no entanto, pode ter outras contas. Basta que o PSD consiga mais votos do que o PS, para este orçamento ficar baralhado. Ao todo, a subvenção estatal aos partidos chegará aos nove milhões de euros.

 

Estes números revelam que, apesar do pedido do Presidente da República, a 25 de Abril deste ano, para que os partidos fizessem menos despesas nas campanhas, o PS, o PCP e o BE não ouviram a chamada de atenção e aumentam todas as despesas em propaganda. Ao contrário, o PSD e o CDS reduzem os gastos em relação a anteriores eleições.

 

Pior ainda: o dinheiro que os partidos recebem referente às campanhas só lhes chega depois dos resultados, o que implica que todos os movimentos políticos sejam obrigados a ter dinheiro em caixa para gastar imediatamente.

 

Privados pagam

 

A fatia de leão vem do Estado, já se viu, mas o restante chega das empresas. Além de António Mota, como já se contou, outros empresários se chegam à frente com dinheiro. É o caso de Armindo Monteiro, presidente da Compta, empresa de sistemas informáticos que tem no Estado um grande cliente. Monteiro admite ter dado dinheiro aos principais partidos, apostando assim em vários “carrinhos”. Pires de Lima, antigo deputado do CDS e agora presidente da Unicer, também financia a título particular algumas campanhas. O mesmo acontece com outro destacado centrista, Lobo Xavier, que entrega dinheiro pessoal ao CDS. Na vida profissional, Lobo Xavier é, além de conhecido comentador do programa “Quadratura do Círculo”, administrador de várias empresas, entre as quais a Sonae, de Belmiro de Azevedo.

 

A Somague, outra empresa de construção, também dá dinheiro ao PSD – assim aconteceu no sufrágio em que Durão Barroso foi eleito primeiro-ministro, tendo à época causado incómodo esse financiamento. É que, relatava o jornal “Público”, mal o PSD chegou ao governo, mandou suspender concursos de auto-estradas, adjudicadas pelo PS e protestadas pela empresa financiadora da campanha.

 

Já o banco angolano BIC, dirigido por Mira Amaral, antigo ministro da Indústria do PSD, não está pelos ajustes. O banco, que tem como accionista a família presidencial angolana, tem uma posição muito clara, expressa pelo ex-governante português: “Não financio ninguém e hoje nem as quotas ao PSD pago”, diz, triste com o facto que “não haver transparência nas contas”.

 

Os “outros” financiamentos

 

Mas se as principais empresas, como as de construção, financiam os partidos e apresentam contas oficiais desses donativos, existe outra forma de ajudar os grupos políticos que não deixa rasto. Este ano, todos os partidos com assento parlamentar tentaram mudar a lei de financiamento partidário, que lhes permitia receber mais de um milhão de euros em dinheiro vivo, sem recibos nem justificações, sob total anonimato. A lei passou na Assembleia da República apenas com um voto contra – o do deputado socialista António José Seguro. Cavaco Silva viria a vetar a lei, abrindo mais um fosso entre a sua presidência e a câmara legislativa.

 

A ideia de receber dinheiro sem recibos até àquela quantia é da autoria do PS, mas era um claro favor aos comunistas do PCP, que não sabem onde encaixar o dinheiro recolhido durante a Festa do “Avante!”.

 

Outra forma de o dinheiro entrar nos partidos é através do pagamento de despesas tão simples como as quotas. Se, aparentemente, o pagamento de quotas é irrisório, uma vez que corresponde a uma pequena despesa mensal, torna-se relevante quando numa secção se está a escolher, por voto secreto, o nome que deverá ser apresentado como candidato a deputado… Aí, quanto mais votantes houver de uma lado da barricada, mais hipóteses esse candidato a candidato a deputado tem de vencer. E, por vezes, suspeita-se que não sejam os militantes a pagar as suas próprias quotas, mas algum altruísta que apareça de repente, para garantir a eleição do nome em causa.

 

É nestes lios, suspeitos de ilegalidades, que está metido António Preto, ex-coordenador do PSD de Lisboa, amigo de Manuela Ferreira Leite e contestado candidato a deputado. O Tribunal Central de Instrução Criminal confirmou na semana passada a acusação do Ministério Público a António Preto. Existem, segundo o tribunal, alegados crimes cometidos na campanha para a distrital do PSD de Lisboa, que António Preto ganhou. suspeita de que a recolha de fundos (dinheiro vivo entregue numa mala) tinha directamente a ver com o pagamento de quotas a vários militantes, para que estes pudessem votar.

 

O PS e a Fundação

 

Se no PSD é o caso de António Preto a agitar as águas, no PS é a Fundação para as Comunicações Móveis (FCM) que está sob suspeita. Paulo Rangel, no último debate que travou com o primeiro-ministro José Sócrates na Assembleia, disse que a Fundação tinha “objectivos obscuros”. Mais tarde, o deputado do PSD, e antigo secretário de Estado, Jorge Costa, pediu uma “intervenção imediata” do Tribunal de Contas para que fizesse uma auditoria. “A auditoria que pedimos tem de permitir conhecer o destino dado ao dinheiro público, como e em quê foi aplicado, que campanhas financiou”, alvitrou este social-democrata. O Governo esclareceu que a Fundação é formada pelas operadoras de comunicação nacionais e pelo Estado e que teve, entre outros objectivos, a compra e promoção do mini-computador Magalhães. O caso ainda não está esclarecido.

 

Criada em 2008 para apoiar o plano Tecnológico, a FCM junta o Estado a Sonaecom, a Vodafone Portugal e a TMN. Arrancou com um capital de 25 milhões de euros, tendo-lhe o Estado entregue alguns lucros da Autoridade Nacional das Comunicações (ANACOM) em 2007 e 2008, num valor total de 36,5 milhões de euros. Em Dezembro de 2008 a FCM encaixou 16,5 milhões de euros e, em Abril deste ano, outros 20 milhões.

 

* * *

Casos famosos

 

Em 2005, a empresa Bragaparques financiou a campanha do PSD para a Câmara Municipal de Lisboa, numa quantia estimada em 20 mil euros. Recorde-se que administradores da Bragaparques, detentores dos terrenos do Parque Mayer e envolvidos no negócio da permuta destes com os da Feira Popular, foram acusados pelo vereador Sá Fernandes de tentativa de corrupção para acto lícito.

 

Nesse mesmo ano, o ex-dirigente do CDS-PP Abel Pinheiro, constituído arguido no caso de tráfico de influências na herdade Vargem Fresca, disse ao extinto jornal "A Capital" que nenhum administrador do Banco Espírito Santo (BES) financiou a campanha eleitoral do CDS para as eleições legislativas desse ano. Mais tarde, nas contas do CDS, e durante a investigação deste caso, inspectores da Polícia Judiciária encontraram recibos de donativos passados a cidadãos com nomes tão peculiares como “Jacinto Leite Capelo Rego”. Em causa estava um cheque de um milhão de euros que ninguém sabia como tinha ido parar à conta do CDS.

 

A última conta de campanha mal feita, mas que não se liga directamente com financiamentos, foi de Aníbal Cavaco Silva. Durante a campanha eleitoral para a Presidência da República, o seu staff usou uma casa em Oliveira de Azeméis cedida por um empresário português emigrado no Brasil. Só que o empresário, Licínio Basto, fora preso pela Polícia Federal brasileira, durante a Operação Hurricane (crime económico). “A casa estava inocente” – e a candidatura de Cavaco Silva garantiu não ter ideia do que fazia o seu benemérito apoiante.

Quinta Coluna: Sócrates vs Jardim

José Sócrates conseguiu arranjar uma “aberta” na agenda e voou para a Madeira, a participar no comício socialista da Fonte do Bispo – uma espécie de contraponto miserabilista à concentração que todos os anos atrai milhares à festa do PSD no Chão da Lagoa. A sua ideia era óbvia: mostrar que é um político “corajoso” e não receia enfrentar Alberto João Jardim no seu próprio terreno. Saiu-lhe o tiro pela culatra. Ele bem tentou “mobilizar” os socialistas da ilha para uma campanha que já reconhece como “difícil” – mas o PS local, ainda por cima dilacerado por divisões internas, acredita tanto na vitória como nós na bondade do marxismo-leninismo. Jardim respondeu-lhe à letra: “Regozijo-me porque, sempre que o primeiro-ministro vem à Madeira, o Partido Socialista desce nos votos”, comentou o líder do PSD da ilha e chefe do Governo Regional. E, aliás, quem é Sócrates, afinal? “O PS tem 14 por cento de votos e eu não costumo fixar o nome dos secretários-gerais dos pequenos partidos”. Pode não se gostar do estilo, pode-se contestar esta ou aquela frase, pode-se achar que, por vezes, a oportunidade é discutível. O que não oferece dúvida é que, entre os políticos portugueses, Alberto João Jardim é dos raros que consegue pôr Sócrates no seu lugar. Foi atrevimento do secretário-geral do PS pensar que podia ir à Madeira em passeio triunfal e regressar “vitorioso” ao Herón Castilho. Mas o primeiro-ministro é mesmo assim: não costuma medir as consequências. Desta vez, o ‘boomerang’ atingiu-o em cheio. E a sentença final, na Madeira, virá a 27 de Setembro.

F.D.

O Sistema não tem inimigos

António Marques Bessa

 

Torna-se importante notar que, desde o Bloco de Esquerda até ao CDS, passando portanto pelo PCP, PSD e PS, não há qualquer posição que desafie o Sistema Político Instalado. Todos se dizem democratas e declaram aceitar as regras do jogo. Parece simples, mas não é.

 

Em 1974 e 1975, o PCP, como partido revolucionário, jogou para impor um Sistema diferente deste e semelhante ao que existia ao tempo na URSS. Vieram a perceber que não conseguiam e passaram a entrar no Sistema, que os seu dirigentes só formalmente criticam com um lista previsível de acusações, todas elas feitas ao nível prático. Segundo esse relato, o Sistema não está aperfeiçoado porque não garante uma lista enorme de direitos dos trabalhadores. O discurso não tem substância porque não ataca o sistema directamente numa linha leninista ou mesmo marxista, como devia ser a matriz do dito partido vermelho da foice e do martelo.

 

O recém criado Bloco, formado pelos trânsfugas de três partidos de extrema esquerda, cujo triunvirato ainda se nota com a hegemonia do demagogo Francisco Louçã, não teve senão que aceitar o Sistema e lutar por votos segundo “as regras do jogo”. Mas mais: vindos de um pensamento totalitário e claramente anti-democrata, passaram imediatamente ao acto de adoração latrêutica à democracia, que segundo eles está imperfeita.

 

Cadeia alimentar

 

O Partido Socialista, vindo dos exagerados excessos dos jovens exilados na Alemanha, como bem descreve Rui Mateus, perceberam desde cedo o significado da riqueza e o peso do dinheiro. E essa compreensão era incompatível com o marxismo que diziam professar. Por consequência, tiveram que enfrentar num combate mortal a máquina treinada e subversiva do PCP, que queria o poder em Portugal e julgava isso possível instrumentalizando o poder militar, e em seguida definir o Sistema em seu favor. Meteram o marxismo e até o socialismo na gaveta da secretária e banquetearam-se, quando no controle do Sistema, com os recursos do Sistema. Definiram a exploração a seu favor, colocando-se no topo da cadeia alimentar. Foram anos em que o Sistema tomava forma e em que quem passava pelo círculo do poder ficava rico, como é hoje manifesto. A diferença de pecúlio entre o momento da chegada ao círculo e o momento de saída é verdadeiramente notável e não se explica pelos ordenados. Com vocação para o Sistema, o PS ajudou fortemente a erguer o Sistema de que beneficia agora. É um defensor do Sistema.

 

O PSD fez uma longa caminhada com os mal vistos pelo Sistema. Forçou a entrada no Sistema contra o PS e o PCP e tratou de colaborar  na adequação do Sistema às suas necessidades alimentares. Na realidade, é um defensor do Sistema, porque o Sistema é também uma criação sua. Também entende que o Sistema tem que ser melhorado, com menos corrupção, mais transparência, mais emprego, mais seriedade. É o discurso do costume. Os slogans são pobres nesta campanha e todos intrinsecamente falsos ou ambíguos. A sua máquina desatinada defende o Sistema, só com alguns não alinhados a apontar o dedo ao sítio certo. São defensores do Sistema.

 

O CDS, depois de muitas mutações, conseguiu sair de uns pequenos papéis colados nas bocas de Metro da cidade de Lisboa e entrar no Sistema como parente pobre. Ensaiou na sua área de interesses todas as estratégias possíveis com Freitas do Amaral, Lucas Pires, Adriano Moreira, Ribeiro e Castro e Paulo Portas. Foi do Centro (de quê?), foi partido democrata-cristão fora de tempo, foi a direita possível no Sistema, foi conservador, foi neoliberal, tornou a ser cristão e de direita. Bom, mas é do Sistema. Propõe mudanças no Sistema, mas é democrata.

 

Não se vê no espectro de partidos políticos com representação na Assembleia quem não seja do Sistema e esteja ali para derrubar o Sistema.

 

Oligarquia satisfeita

 

Isto significa o êxito da democracia em Portugal, mas não uma democracia de êxito, de sucesso. É o sucesso do Sistema, mas o Sistema não nos leva ao sucesso. É caro, inoperacional, pouco eficiente, facilmente corrompido e, acima de tudo, proporcionou a formação de uma oligarquia política que se alimenta do Estado e que desempenha essa função sem sentido de serviço a não ser o serviço que faz a si mesma.

 

A oligarquia existente tem mudado muito lentamente no tipo de pessoas, mas revela-se incapaz de se renovar verdadeiramente até pela presença de famílias, cujos descendentes parecem que herdam a faculdade de  subir ao círculo do poderio político.

 

É interessante estudar o modo como a oligarquia reage a uma ameaça de expulsão ou de renovação. A primeira feita com sentido foi a do partido dito PRD, que aproveitou a figura do General Eanes para se desenvolver e ganhar uma parte substancial da Assembleia, preparando-se, como é lógico, para partilhar os bens disponíveis no Sistema. Todos os partidos (claro que queremos significar os dirigentes contentes dos partidos) identificaram o inimigo: os despojos do dia, o festim, estava ameaçado porque chegavam uns sujeitos esfomeados. Tocaram as trombetas e o partido, depois de umas manhosas habilidades, desapareceu por onde veio, espalhando-se o pessoal dirigente por uns tachos adequados para os manter longe da grande gamela, mas satisfeitos. A mais recente experiência é a sanha com que tratam a rapaziada pouco cristã, cabeça rapada, fatos pretos, correntes, do partido nacionalista. Crêem piamente que ali há nazismo, xenofobia, que os miúdos e as miúdas têm quartos que em vez de exibir cartazes dos Bandemónio, ou dos figurões do heavy metal, têm é o preocupante hábito de pintar suásticas nas paredes, talvez meter umas fotos do tio Adolfo em vez do sorumbático e doente Lenine, e para mais são capazes de ter escondido algumas cópias proibidas do Mein Kampf. É tão preocupante que todos querem eliminá-los e nem sequer os querem deixar ter acesso ao Kindergarten político. Isto já é maldade ou querer mostrar serviço, quando o serviço deveria consistir em prender os criminosos que infestam o país e que, contra a opinião dos abalizados e indocumentados comentadores, no Sistema, na minha opinião só vai piorar.

 

Em jeito de resumo: o Sistema só pode ter inimigos nas cabeças quentes dos miúdos enquadrados pelo partido declarado inimigo. Os dependentes do Sistema: são os desempregados com subsídio, ciganos financiados, emigrantes assaltantes, bandidos, funcionários da máquina, enfim, tudo pequena gente. O que consta é que as alternativas a este Sistema nem sequer foram enumeradas ou formulados ou enunciadas. Isto significa que a oligarquia política está satisfeita. Não luta entre si, entende-se. O povão vê o espectáculo mediático da luta política que parece um jogo de futebol morno e sem craques. A oligarquia, depois da festa, vai fazer o festim. O que é importante para a oligarquia é enganar sistematicamente o povão composto infelizmente por uma percentagem razoável de gente boa que ainda não passou à floresta. Só isso preocupará a oligarquia impávida e arrogante.

Investigação ao Freeport mete férias à beira das eleições

A investigação ao caso de alegada corrupção no centro comercial de Alcochete, que envolveu o nome do primeiro-ministro José Sócrates e foi considerada “urgente”, esteve de férias durante o mês de Agosto…

 

"O Diabo" sabe que as diligências seguem em ritmo lento porque muitos investigadores e magistrados estão a banhos. Fonte da Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou ao nosso jornal que há "poucos ou nenhuns" avanços no caso que, a 23 de Junho, era considerado de "carácter urgente" pelo Procurador-Geral, Pinto Monteiro. A pressa soçobrou, aparentemente, ao sol e calor do Verão. "O Diabo" tentou obter, insistentemente, explicações sobre este abrandamento num caso de corrupção em que foi envolvido o nome do primeiro-ministro. Sem sucesso. As férias do pessoal da PGR impossibilitaram qualquer resposta oficial.

 

Parado está ainda o processo-crime para determinar se houve pressões à investigação do caso Freeport. O Supremo Tribunal de Justiça iniciou as audições em Julho, mas deteve-se, por causa das férias, à entrada de Agosto. O inquérito resulta de uma denúncia que o Movimento para a Democracia Directa fez à Procuradoria-Geral da República, a 7 de Abril. Nessa queixa, o Movimento dizia que os dois procuradores titulares do caso teriam sido pressionados para arquivar as suspeitas de corrupção referentes ao Freeport e ao primeiro-ministro José Sócrates. A denúncia apontava Lopes da Mota, presidente do Eurojust, Alberto Costa, ministro da Justiça, e o próprio primeiro-ministro como conhecedores das pressões.

 

Este inquérito-crime decorre no Supremo, uma vez que Lopes da Mota tem a categoria de procurador-geral-adjunto, além de ser presidente do Eurojust, organismo que facilita o contacto entre as polícias de investigação europeias.

 

O Movimento considera que existiram pressões que podem ter implicado a prática de crimes de coacção sobre funcionário, tráfico de influências, favorecimento pessoal, denegação de justiça, prevaricação e abuso de poder.

 

Noutra frente da investigação, sabe-se agora que a Polícia Judiciária encontrou, nos finais de Julho, suspeitas sobre a origem de depósitos bancários datados de 2002 e no valor de 200 mil euros. Estes depósitos foram feitos nas contas do arguido Carlos Guerra, ex-presidente do Instituto de Conservação da Natureza. Carlos Guerra dependia directamente de José Sócrates, à época do licenciamento do Freeport de Alcochete. O arguido sustenta que o dinheiro lhe chegou às mãos vindo do sogro, cuja empresa falira e estava a liquidar as contas. Para a investigação, esta defesa é frágil.

 

Segundo o semanário "Sol", estas entregas de dinheiro "não estão justificadas" e "indiciam que poderão ser contrapartidas pecuniárias pelo licenciamento do outlet".

 

Em Junho deste ano, a Procuradoria Geral da República comunicou que o caso Freeport não estaria concluído antes das eleições legislativas de 27 de Setembro, em que José Sócrates concorre como cabeça de lista do PS pelo círculo eleitoral da Covilhã.

 

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