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Jornal O Diabo

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Os cinco combates que ditam a vitória

Depois do resultado de Domingo, o PSD tem de conseguir manter os seus bastiões autárquicos para sair com dignidade de 2009. O combate faz-se nas cinco principais cidades do País, mas também nas periferias de Lisboa e Porto.  


Os socialistas cantarão nova vitória no próximo dia 11 de Outubro se conseguirem manter Lisboa, conquistarem Coimbra e, por algum milagre político, reconquistarem alguma autarquia à volta das grandes cidades ao PSD. O cenário é claro e não deixa dúvidas: o PSD, ainda detentor da gestão do maior número de autarquias, tem a todo o custo que vencer, para não entrar numa das maiores depressões de que há memória. Se os sociais-democratas, no entanto, perderem, será o fim de uma era onde o PCP mandava a Sul e o PSD a Norte, deixando os socialistas com as urbes.

Assim, a sul, as principais preocupações são Oeiras, Cascais, Amadora, Vila Franca de Xira e Santarém que, se ganhas, podem até compensar uma eventual derrota de Santana Lopes na capital. A norte, Gondomar, Gaia, Matosinhos e a Feira devem cair no colo laranja, para que não haja um desequilíbrio na Área Metropolitana do Porto, cuja câmara dificilmente será perdida para o PS.

Num voo rasante pelas principais candidaturas das principais cidades portuguesas, “O Diabo” mostra-lhe as opções que se apresentam.


Lisboa

Santana contra todos

O ex-primeiro ministro tem nesta corrida a sua última prova política. Ou reconquista Lisboa a António Costa, perante uma esquerda que se dividiu, ou fica provado que os parcos meses de Governo deram cabo da sua popularidade na capital. O candidato do PS, António Costa, “agarrou” a oportunidade que se lhe apresentava de ganhar estatuto político na Câmara de Lisboa e abandonou o executivo de José Sócrates. Mas, mesmo unindo-se a Helena Roseta e ao “´Zé que faz falta”, Sá Fernandes, o actual presidente tem um coro de críticas apontado: a cidade está mais suja, falta iluminação pública, não há dinheiro para reasfaltar os principais eixos viários, os serviços não funcionam ou não se entendem uns com os outros, as empresas municipais são um saco de nomeações políticas. Exemplos disso são a EPUL, a Gebalis ou mesmo a gestão conjunta do MARL, o mercado abastecedor da cidade. Costa enfrenta ainda a ira dos fornecedores que ainda não viram tostão do seu apregoado pagamento a tempo e horas. Pior, em mais de dois anos, os socialistas não conseguiram resolver três problemas fundamentais da cidade. A zona oriental de São João, Beato e Marvila estão de novo a degradar-se  e ali nascem ali aglomerados de barracas e mato selvagem, perante a indiferença da câmara socialista . O Parque Mayer continua decadente e sem solução à vista. O empreendimento da Alta de Lisboa está por acabar e, agora, até serve para sortear andares em programas de entretenimento matinal. Santana podia ter uma campanha tranquila e até vencedora, mas nestes primeiros dias tem mantido a descrição. Insiste nas soluções que resultaram na sua eleição: mais um túnel, a recuperação do Parque Mayer e novos bairros sociais de integração mista. Santana quer ainda melhorar a acessibilidade do centro da cidade aos automobilistas e devolver a Praça do Comércio e a frente rio aos cidadãos. É programa para dois mandatos, no mínimo. Conta em Lisboa com o apoio do PPM, CDS, MPT e luta contra três partidos de esquerda: Costa, pelo PS, uma tímida candidatura de Luís Fazenda pelo Bloco de Esquerda e um sempre robusto Ruben de Carvalho, do PCP, em fim de carreira lisboeta, mas com um eleitorado fiel.

 

Porto

A direita unida à volta de Rui Rio e a esquerda esfrangalhada. O actual presidente da Câmara Municipal do Porto deve reconquistar tranquilamente o lugar, sem margem para coligações no executivo camarário com Elisa Ferreira, a candidata do PS que é, ao mesmo tempo, eurodeputada. O PS parece ter desistido de lutar pela Invicta desde que, ia a Primavera a meio, as primeiras sondagens davam mais de 25 pontos de avanço a Rui Rio, o homem que olha para as finanças autárquicas como um lince. Elisa Ferreira, que fora uma das mais reconhecidas ministras do governo de António Guterres, passou de cavalo para burro quando aceitou ser candidata a Bruxelas. Rio aproveitou-se e mandou fazer um cartaz devastador: “Com os dois pés no Porto”, lia-se, eficazmente, no primeiro assomo de campanha. Em causa estão ainda as guerras antigas de Rio. Este quis tirar os toxicodependentes das ruas e criou o programa “Porto feliz”, que obrigava os arrumadores a sair da rua e a internarem-se em centros de recuperação. O Governo central tirou-lhe o tapete, o programa acabou e agora o autarca promete regressar à sua luta. No segundo mandato Rio quer também demolir todos os bairros de barracas e realojar, rapidamente, as famílias que vivem em bairros como o Aleixo. Mas há dois problemas no Porto: a insegurança e o desemprego. A primeira, que sobressai à noite, está a aumentar e Rui Rio sabe que sem o governo não resolve o drama. Propõe, inclusive, que se unifique o comando das polícias, para combater melhor o crime. Já Elisa Ferreira defende primeiro intervenções nos bairros sociais para responder às necessidades dos indigentes e criminosos para, só depois, lidar com a grande criminalidade. Rio e Ferreira apoiam depois uma mão cheia de propostas de bom senso, como a ligação das empresas às escolas e universidades, o apoio à procura de emprego, as obras mais rápidas para as pessoas mais necessitadas.

O que está em causa no Porto, mais do que em Lisboa ou noutras cidades, é a escolha do líder. E aí, Rio parece estar tranquilo. Chegou ao Porto contra o “papa” Pinto da Costa, lutou contra variados grupos de interesses e foi conquistando simpatias de todos. Mas há um problema na eleição de Rui Rio: se o PSD lhe exigir que seja líder do partido para combater os socialistas nas próximas legislativas, o autarca terá poucos argumentos para dizer “não” ao partido. E assim, em vez de dois pés no Porto, terá dois braços a trabalhar em campanha eleitoral, para recuperar o PSD e o poder.

 

Braga

Ricardo Rio, PSD, tem uma difícil tarefa: arredar Mesquita Machado da presidência da Câmara, o último dos dinossauros socialistas numa grande cidade. Machado foi eleito aos 29 anos para presidente, em 1976. Desde então, nunca mais largou o poder, recandidatando-se este ano ao seu último mandato permitido por lei. A cidade sofreu uma transformação radical na última década. A instalação da Universidade do Minho, de mãos dadas com a crescente influência da igreja Católica – hoje Braga é a capital religiosa de Portugal -, levou a que em 2009 seja a terceira maior cidade portuguesa. Ricardo Rio junta o PSD ao CDS e ao PPM, reeditando a sempre saudosa AD. Rio promete continuar a apoiar as Instituições Particulares de Solidariedade Social e as empresas que tenham vontade em instalar-se ali. Diz que não quer ser alternativa ao que existe e faz propostas como a certificação da qualidade das escolas ou o aumento dos meios da protecção civil. Promete maior colaboração com os autarcas das juntas e, acima de tudo, diz que vai acabar com “a prática caciqueira e a política de chapéu na mão”. Mas Ricardo Rio tem pela frente uma máquina socialista muito oleada, com décadas de experiência e, acima de tudo, uma rede de interdependência no status quo: Mesquita Machado talvez conheça pessoalmente todos os líderes comunitários da cidade, contou cedo com boas redes viárias e é hoje dinamizador de uma plataforma comercial importante com a Galiza, papel que Viana do Castelo perdeu. O PSD quer criar um pelouro específico de um vereador para a Universidade, uma vez que é esse o motor do distrito.

 

Coimbra

O ilustre desconhecido Henrique Fernandes é o candidato do PS à câmara municipal de Coimbra, contra o histórico Carlos Encarncação, do PSD, que se recandidata. Apesar de alguns problemas na cidade – como a venda de um edifício dos CTT de manhã por um valor e na tarde do mesmo dia por dez vezes mais –, Encarnação aguentou o barco e está em boa posição para voltar a ganhar a autarquia. A famosa “ponte Europa” sobre o Mondego foi outro dos cavalos de batalha do social democrata contra o governo do PS. Inacabada durante anos, a ponte foi dos maiores exemplos de falta de planeamento estratégico urbano do País. Fernandes chegou há pouco a líder da concelhia local, depois de ter ocupado o cargo de Governador Civil da cidade. Ainda não tem qualquer proposta ou programa publicado. Já neste mandato, Carlos Encarnação quer resgatar a cidade dos doutores da morrinha pachorrenta e letárgica que tem vivido, melhorando não só a sua universidade como ajudando a fixar mais as empresas e serviços que têm fugido para as vizinhas Leiria e Aveiro. Uma guerra que deve ser serena para o PSD e que pode já ter vencedor antecipado.

 

Faro

O socialista José Apolinário enfrenta este ano Macário Correia, do PSD, um dos mais populares militantes de base dos sociais-democratas que comandou o destino de Tavira nos últimos anos. Macário (ou, como lhe chamou um dia Nicolau Breyner, “o utente da maca”), é autor da célebre frase “beijar uma mulher que fuma é como lamber um cinzeiro”. Mas após a sua passagem pelo governo do conterrâneo algarvio Cavaco Silva, fez uma travessia no deserto para depois se revelar um aplaudido autarca, com direito a medalha e comenda por parte do Presidente socialista Jorge Sampaio. O social-democrata já disse que o seu principal objectivo é colocar em ordem as contas da Câmara, cuja dívida ascende a 55 milhões de euros. Depois se verá, diz o ainda presidente de Tavira.

José Apolinário foi, durante anos, o homem do PS no Algarve e agora tem de defender a sua câmara com unhas e dentes, porque Macário é um adversário que pode virar a corrida. A sua aposta é criar diversos parques científicos e tecnológicos para potenciar as empresas locais, os congressos durante a época baixa de ocupação de hotéis e, acima de tudo, chamar massa cinzenta para o Algarve. É uma das disputas mais interessantes da campanha autárquica.

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