Paulo Portas a "O Diabo"
“Não quero o governo a qualquer preço”
Paulo Portas, líder do CDS, assegura que não vai deixar a liderança do partido e está pronto a apresentar um caderno de encargos ao PSD para poder viabilizar um governo de direita
O Diabo - A campanha eleitoral tem sido feita volta do TGV, dos espanhóis, das pequenas polémicas diárias sobre as escutas. Era isto que esperava? Que revela este discurso sobre a qualidade política do País?
Paulo Portas - Revela partidos que, durante os últimos quatro anos, nunca falaram seriamente de temas como a Segurança, a Agricultura, ou que só neste Verão se lembraram das PMEs. Destes partidos, não se pode esperar muito mais. A questão do investimento do TGV é importante se, e apenas, se apresentar – como fez o CDS – as alternativas. Eu esperava que se falasse no desemprego. Afinal Portugal tem, neste momento meio milhão de pessoas desempregadas, uma percentagem assustadora de jovens qualificados no desemprego… a esquerda esquece-se sempre que quem cria o emprego são os empresários, que são constantemente maltratados.
O Diabo – Afinal, qual a sua ideia para Portugal? Onde quer que Portugal chegue, caso tenha a oportunidade de liderar o País?
Paulo Portas - O País, que José Sócrates nos deixou, está mais endividado e tem menos crescimento, tem mais desemprego e menos empresas, mais dependência do exterior e menos exportações, mais rendimento mínimo e menos pensões, mais criminalidade e menos justiça. Queremos um país com mais motivação dos professores e mais exigência nos alunos, como mais autoridade e menos violência. Uma comunidade que possa acreditar na Justiça, com segurança para haver liberdade, com reguladores financeiros que dêem confiança no sistema financeiro. O CDS quer valorizar quem trabalha, com menos impostos e impostos mais amigos da Família, um País que não abandone o mundo rural nem os recursos do mar.
O Diabo - Que temas quer ver ainda discutidos na campanha?
Paulo Portas - A Família, é um bom exemplo de um tema que tem estado longe da discussão política, assim como a óbvia falta de confiança na Justiça ou os problemas da Saúde. Acreditamos que, na Educação, se tem de lutar pela autoridade dos professores nas salas de aulas e avaliar também os programas escolares actuais. Um tema que o CDS tem levantado, mais uma vez, é a importância, para um País como o nosso, das políticas do Mar.
O Diabo - O CDS teve o papel de moderador do PSD a partir de 2002, nos governos liderados por Durão Barroso e Santana Lopes. Está disposto a repetir a experiência?
Paulo Portas - Já o disse, sei o que é estar no Governo e não tenho a ambição de lá voltar a qualquer preço. Só vale a pena se o CDS tiver mais força, nos votos, para podermos cumprir o que chamamos o nosso “caderno de encargos”, as nossas prioridades para Portugal.
O Diabo - Caso o CDS consiga ser Governo assume a pasta da Agricultura?
Paulo Portas - O desastre do ministro actual é tão grande, tão terrível, que uma coisa lhe asseguro, vamos ter de ter um ministro que lute pelos agricultores, não contra eles, que fale com quem trabalha a terra, não os ignore, que lute pelos apoios comunitários para Portugal, não os desperdice, que seja activo, em vez de atrasar todos os prazos, que acredite na agricultura, e não um que desista do sector agrícola.
O Diabo – Viabilizará um governo minoritário do PS ou do PSD, sem estar no Governo?
Paulo Portas - O CDS já provou que é um partido que dá estabilidade e que tem responsabilidade, mas não abandonamos as nossas exigências nem os valores em que acreditamos. Está na altura de virar a página deste governo socialista, não podemos perder mais oportunidades nem desprezar quem trabalhou uma vida toda e vê as pensões mínimas esquecidas.
O Diabo – O seu apelo ao voto indica que há pessoas que concordam consigo mas não querem votar no CDS. Como explica isto?
Paulo Portas - Deve votar-se no partido que pensa o mesmo que nós, em que nos identificamos no discurso e damos razão. Quem pensa o mesmo que o CDS tem razões para acreditar que faremos um bom trabalho… o nosso trabalho, ao longo da última legislatura, mostrou bem que somos o partido mais trabalhador, com mais iniciativas. O voto serve também para censurar quem merece ser censurado e premiar quem merece ser premiado. José Sócrates governou mal, tem de levar um cartão vermelho. O CDS foi quem mais trabalhou na Oposição, por isso, agora, pedimos mais força.
O Diabo – Se o CDS mantiver o número de deputados, já fica contente?
Paulo Portas - O CDS vai subir, vamos ter mais votos, mais deputados. Estou a percorrer o País e posso garantir-lhe que há cada vez mais pessoas a pensar como nós. O CDS tem de ter mais votos que a esquerda radical, é a única forma de impedir o regresso a um tempo arcaico – de nacionalizações e controlo estatal – que alguns continuam, em 2009, a propor.
O Diabo – E se tiver menos votos que nas eleições legislativas anteriores, abandona o cargo de presidente do Partido?
Não se preocupe, isso não vai acontecer. Ouça, nas últimas eleições davam 2 por cento ao CDS e tivemos quatro vezes isso!